BOM DIA, PROFESSORA!
Muitos versos, muitos cartões, muitas flores, ganhei nesta
data. As flores murcharam! Não me sentia à vontade quando recebia grandes ramalhetes de belas flores. Fenecem. Doía jogar no lixo o buquê ressequido ofertado com carinho. Vendava os olhos do coração.
Preferia receber uma única florzinha, uma singela violeta ou minúscula margarida branca acompanhada do cartão confeccionado num pedaço de folha de caderno com desenhos de coraçõezinhos e o escrito: com A escrevo amizade / com P escrevo paixão / com I escrevo dona Ione / dentro do meu coração. Tenho-os nos meus guardados. A flor era colocada dentro de um livro qualquer.
Viajo no tempo nas asas de uma lembrança bonita, gostosa.
Convivo, outra vez comigo, a professora. E comigo o pó de giz; o cheiro da bergamota descascada às escondidas; as briguinhas pelo pequeno toco de lápis azul, ou pelo naquinho de borracha; a merenda apetitosa (pão de milho caseiro com chimia comum); o choro abafado – o dente ou o ouvido doendo; um caderno rasgado pelo irmão menor ou comido pelo cusco; o nariz escorrendo, limpo na manga do guarda-pó; o cheiro de cabeças suadas após o recreio; os olhos remelentos; os lábios roxos de frio; a tosse comprida; o desarranjo e a corrida à casinha; a bala melequenta ofertada; bilhetes dos pais escritos com letra de primeiro ano, pedindo para largar mais cedo; o vômito e o xixi intrometidos, fora de hora; o dedinho cortado com a gilete; a arte para chamar atenção; o estalado beijo de despedida no final da aula...
Faz-me recordar no encontro da florzinha seca, tênue,
deixada entre páginas de um velho livro. Margarida, violeta, flor-do-trevo, amor-perfeito, flor do mato, sozinha, simplória, nesses meus encontros reflorescem, revigoram, perfumam... Jamais murcharão!
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